Tradução do texto de Nobuhiro Shirai originalmente postado no The Asahi Shimbun.
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Ayako Fuchigami, vestindo uma jaqueta rosa na frente do seu veículo de campanha com um sinal da mesma cor, deu uma mensagem simples para a multidão que se reuniu próximo dela.
“Nós só queremos viver uma vida normal”, disse Fuchigami, de 44 anos, em seu microfone enquanto a bandeira do arco-íris balançava no fundo. “Eu queria criar uma sociedade onde as opiniões de diversas pessoas são refletidas”.
Suas palavras repercutiram já que ela se tornou a primeira pessoa abertamente trans a ser eleita para a assembléia provincial no dia 7 de abril.
Durante a sua campanha para a assembléia de Hokkaido, alguns criticaram Fuchigami como sendo uma figura que agradava a platéia mas não seria uma política séria.
Fuchigami descartou essas críticas.
“Eu estou representando as minorias que enfrentam muitas dificuldades diariamente. Eu sinto o peso sobre os meus ombros”, disse Fuchigami depois de conseguir uma cadeira na assembléia de Hokkaido para o distrito de Higashi Sapporo.
Durante a campanha, Fuchigami, endosada pelo Partido Constitucional Democrático do Japão, ela falou da realidade enfrentada por pessoas trans no Japão e sobre as suas próprias experiências.
“Aparentemente somos universalmente reconhecidas, mas é somente nos bares e em programas de televisão” ela disse em um discurso do seu último dia de campanha.
No jardim de infância, Fuchigami começou a se sentir desconfortável com o seu próprio gênero.
Ela se lembra de um incidente no jardim de infância onde ela tinha que escrever sobre o seu sonho para o futuro.
“Eu escrevi que queria ser mãe, e então me disseram para consertar a palavra ‘mãe’ por ‘pai'”, ela conta.
Por medo de sofrer bullying no ensino médio, Fuchigami passou a sua juventude escondendo quem ela realmente era.
Depois de se formar na Universidade de Hokkaido, ela iniciou o seu trabalho em um instituto de pesquisa afiliado à universidade.
Ali, Fuchigami sentiu que ela não poderia mais aguentar a sua aparência, que estava se tornando cada vez mais masculina.
Ela decidiu fazer terapia hormonal e se assumir para as pessoas mais próximas dela.
“Eu me senti muito melhor, e eu me sentia bem nesse processo”, se lembrou Fuchigami.
Convidada por um conhecido, Fuchigami começou a trabalhar como dançarina na LaLaToo, um clube que apresentava shows de “new half” (termo para pessoas trans e travestis) em Susukino, um centro do entretenimento noturno de Sapporo.
Ela fez a operação de transgenitalização, e mudou o seu gênero e nome no registro familiar.
Ela então sofreu com outra realidade: a vida depois da aposentadoria.
Fuchigami viu colegas sofrendo ao tentar arranjar modos de viver e sendo rejeitados pela sociedade depois de se aposentarem do trabalho nos clubes. Uma chegou a cometer suicídio.
“Eu quero criar um mundo melhor para as minorias”, disse Fuchigami diversas vezes.
Quando ela estava ponderando sobre a sua própria vida, Fuchigami decidiu entrar na política.
No distrito leste de Sapporo, seis candidatos, incluindo Fuchigami, disputavam por quatro assentos.
Durante a campanha, Fuchigami não deixou o criticismo parar ela.
“Essa é uma batalha para colocar um ar novo e diversificar a assembléia da província”, repetia Fuchigami em suas campanhas.
A cidade de Sapporo introduziu um sistema de declaração de parceria para pessoas LGBT em 2017.
Fuchigami disse aos eleitores que ela queria expandir o sistema para toda a ilha de Hokkaido.
Nos últimos dias de campanha, pessoas LGBT apareceram para apoiar Fuchigami balançando bandeiras do arco-íris.
No dia da eleição, Fuchigami recebeu 18.372 votos, se colocando em terceiro lugar na disputa das quatro cadeiras da assembléia.
Ao receber a notícia, Fuchigami jogou os seus braços ao ar em celebração e se uniu aos seus apoiadores que gritavam “Banzai! Banzai! Banzai!”.
De acordo com um grupo LGBT formado por membros de assembléias locais, Fuchigami é a primeira pessoa abertamente trans a conseguir um assento na assembléia de uma província.
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Links relacionados:
Matéria original (Em inglês): First transgender assemblywoman pushes diversity in Hokkaido
Vinte municipalidades japonesas oferecem certificados de união para casais LGBT