Tradução do texto de Madeleine Ngo originalmente postado no Vox.
____________________________________
Nas bibliotecas públicas de Hong Kong, livros infantis com temática LGBTQ estão desaparecendo das estantes.
Em junho, o Departamento de Serviços Culturais e de Lazer (LCSD) confirmou que elees removeram os livros de suas estantes para uma “seção fechada”, onde o acesso será permitido quando requisitados. Isso basicamente significa que crianças podem ler esses livros somente sob supervisão dos pais.
Essa foi uma ação que reflete o crescente sentimento LGBTfóbico em Hong Kong. Até o momento mais de 10 títulos que apresentam casais do mesmo sexo ou temáticas LGBTQ foram removidas das estantes.
Livos como Daddy, Papa and Me (Inédito no Brasil), O menino de vestido, e Papais diferentes – Milly e Molly entre outros foram retirados.
Uma organização chamada “Grupo Preocupado sobre a Ordem e Descriminação das Orientações Sexuais, Família e Escola” demandou a remoção desses livros porque estariam promovendo a homossexualidade.
Mas, esse movimento instigou uma intensa repercussão negativa de grupos ativistas pelos direitos LGBT, que classificaram essa ação como discriminatória.
“Essa é definitivamente uma forma de tratamento diferenciado, que é baseado na discriminação de minorias sexuais e suas famílias”, disse Ray Chan, o primeiro legislador abertamente gay de Hong Kong, em um protesto no dia 24 de junho.
Ativistas de 40 grupos LGBTQ de Hong Kong criaram uma nova coligação, o Fronte Unido por Bibliotecas Abertas, e protestaram na frente da Biblioteca Central na Baia de Causeway.
“Nós estamos chocados com a decisão dO LCSD”, conta Brian Leung Siu-fai, dirigente operacional do grupo BigLove Alliance, durante o protesto. “O LCSD disse que eles removeram os livros por causa de reclamações de leitores, mas nós sabemos que as pessoas responsáveis por isso são exatamente os grupos anti-gay”.
Hong Kong tem adiado decisões referente aos direitos LGBTQ
A homossexualidade foi descriminalizada em Hong Kong em 1991, mas o casamento ainda continua definido como “a união voluntária entre um homem e uma mulher”. Isso significa que o casamento entre pessoas do mesmo sexo não é legalmente reconhecida e direitos LGBTQ continuam sendo ameaçados nos últimos anos.
No começo do mês, a suprema corte de Hong Kong anulou uma decisão inédita que dava benefícios de saúde para maridos de servidores do sexo masculino. E poucos dias depois o governo requereu que o tribunal de última instância revisasse a decisão que afirmava que a negação de visto para a parceira britânica de uma mulher lésbica era um tipo de “discriminação indireta”.
Ativistas LGBT não ficaram contentes com isso. “Eles basicamente dizem que é necessário uma proteção da instituição matrimonial”, disse Geoffrey Yeung, membro do Grupo de Legisladores Progressivos. “Pela minha perspectiva e da comunidade LGBT, isso basicamente significa a completa exclusão de pessoas LGBT da instituição do casamento”.
Pelo menos uma outra região está avançando em uma direção diferente. Taiwan, que se localiza à noroeste de Hong Kong, possivelmente se tornará o primeiro país da Ásia a legalizar o casamento entre pessoas do mesmo gênero. Em maio de 2017 a corte constitucional de Taiwan declarou ser inconstitucional a definição de casamento como sendo “entre um homem e uma mulher” e deu dois anos para que o governo altere a legislação matrimonial para que ela permita o casamento de pessoas do mesmo sexo.
Mas, em Hong Kong, ativistas LGBT irão ter que continuamente chamar a atenção do governo para que ele crie leis que promovam a igualidade. E algo que os últimos incidentes apontam, ainda existe uma longa caminhada adiante.
____________________________________
Links relacionados:
Matéria original (Em inglês): As anti-gay sentiment in Hong Kong grows, LGBTQ children’s books are disappearing from shelves
Primeiro atleta chinês abertamente gay será enviado para os Jogos Gays de Paris
Hong Kong possivelmente será o primeiro país asiático a sediar os “Jogos Gays”